terça-feira, 6 de dezembro de 2011

O povo Macua-Lomue da Zambezia (Pebane)






                        O povo Macua-Lomue da Zambezia (Pebane)
Autores:  Gelito Jose Arigora e Gilberto Armando Antonio



Introdução
O presente trabalho aborda acerca do grupo étnico Macua-Lomé. O trabalho conte temas tais como: O distrito de Pebane, Situação geográfica, Clima, Relevo e Solos, Infra-estruturas Características gerais do povo Macua-lomué, Origem do povo Macua-lomué, Organização Sócio-político, Autoridade, O NLOKO (Linhagem), O NIHIMO (Tribo), O MWENE, Símbolos de autoridades, Formas de poder, Formas de casamento (Matrimónio), O casamento na sociedade macua-lomué, Factores económicos, A Exogâmia, Residência Matrimonial, Concepção de família Formas plurais de família, Ritos, O nascimento (oyariwa), A confissão ritual das faltas (OLAPHULE), Anúncio, O rito de agregação, Proibições rituais (MWIKHO), O desmame, Iniciação masculina, Ritos preliminares (sua preparação,) Inauguração da iniciação (corte de cabelo), O fogo novo, A circuncisão, As proibições rituais (MWIKHO), Proibições aos pais, Imposição de nome (OVAHYWA NSSINA), Intrusão, Proibições rituais, Ritos finais, Iniciação feminina, Ritos preliminares, Período de entrada Instrução (OLAKA), Morte, Preparação do inteiro, O lugar da sepultura, O funeral, Práticas sócio-culturais e económicas, Formas de economia, A recolha, A caça, Agricultura, Preparação do terreno, A sementeira (WALA) A colheita Mudanças de alimentação, Domínio do Simbólico, Praticas Mágicas-Religiosas, Hierofanias.
O objectivo do trabalho e dar a conhecer sobre o grupo étnico Macua-Lomué quanto a cultura, modos e hábitos de vida. O método usado neste trabalho é de pesquisa bibliográfica, com o apoio das técnicas como a entrevista e colecta de dados. Consistindo assim na interpretação dos textos e métodos de recolha de dados bibliográficos.
No final do trabalho anexamos imagens do povo macua-Lomué.




O GRUPO ÉTNICO MACUA-LOMUÉ
  O distrito de Pebane
1. Situação geográfica  
O distrito de Pebane localiza-se no Nordeste da província da Zambézia, sendo limitada a Norte pela Província de Nampula através do distrito de Moma, a Sul com o Distrito de Gilé, a Oeste com os Distritos de Ile e Maganja-da-Costa e a Este pelo Oceano Índico.
Com uma superfície1 de 10.086 km2 e uma população recenseada em 2007 de 185.33 habitantes, o distrito tem uma densidade populacional de 18.20 hab/km2.
A relação de dependência económica potencial é de aproximadamente 1:1, isto é, por cada 10 crianças ou anciões existem 10 pessoas em idade activa.

1.2. Clima, Relevo e Solos

O clima do distrito é predominantemente do tipo “Tropical chuvoso de savana (AW)”, com duas estações distintas, a estação chuvosa e a seca. A precipitação média anual está na ordem de 1.286 mm e a evapo-transpiração de referência média anual de 1.514 mm.
A maior queda pluviométrica ocorre no período compreendido entre Dezembro de um ano a Abril do ano seguinte (75 a 80%), variando significativamente na quantidade e na distribuição quer num mesmo ano, quer de ano para ano. As precipitações são fortemente influenciadas pela proximidade do mar.
Geomorfologicamente o Distrito é dominado pela planície sedimentar de cobertura arenosa na faixa costeira e pelos sedimentos consolidados do Soco do Precâmbrico no interior, sendo ambas unidades interceptadas pelas linhas de drenagem natural onde ocorrem os sedimentos mais recentes – estuarino-marinhos na faixa costeira e aluvionares no interior. A faixa costeira compreende ainda solos arenosos amarelados, esbranquiçados modificados pelo hidromorfísmo. Mais para o interior, predominam solos residuais do Soco Precâmbrico derivados de rochas ácidas e básicas.


1.3. Infra-estruturas

O distrito de Pebane é servido por transporte rodoviário e marítimo. Nenhuma das vias rodoviárias do distrito beneficiou de obras de reabilitação, mas apenas de alguns trabalhos de manutenção periódica nas estradas que ligam a sede a Maganja da Costa, via Mocubela, e a Mulela.
A reabilitação de estradas terciárias terá um impacto importante em vários sectores de actividade, intensificando a circulação de bens e pessoas, a comercialização agrícola e o escoamento do pescado.
O distrito tem 3 aeródromos (1 inoperacional). O Porto de Pebane não está operacional.
O distrito tem uma cabina telefónica instalada na Vila sede, o que permite comunicações para qualquer parte do mundo. Da Administração da sede do distrito para os Postos Administrativos, as comunicações são feitas via rádio.
O acesso à água potável é uma necessidade ainda não coberta em todo o distrito, havendo comunidades que se deslocam até 12Km até à fonte mais próxima. Em algumas comunidades, poços e furos, equipados com bombas manuais, garantem água durante todo o ano.
Para abastecimento da população em água potável, o distrito tem 159 fontes (38 inoperacionais). Importa referir que a maioria destas fontes está concentrada na Sede do distrito e PA de Mulela, havendo por isso um desequilíbrio em relação ao PA de Nabúri que apenas possui 3. Este desequilíbrio justifica-se pelo facto de a ponte que liga a sede daquele Posto ter sido destruída durante o conflito armado e só ter sido reabilitada em 2002.
Este distrito sofreu uma guerra de desestabilização, tendo destruído grandes edifícios do governo, contudo o distrito é dirigido por um administrador distrital e seus três chefes dos postos administrativos que compõem o distrito nomeadamente (Mulela, Nabúri e Vila do distrito), segundo a actual divisão administrativa.
O distrito pos

tações distintas, a estação chuvosa e a seca. A precipitação média anual está na ordem de 1.286 mm e a evapo-transpiração de referência média anual de 1.514 mm.
A maior queda pluviométrica ocorre no período compreendido entre Dezembro de um ano a Abril do ano seguinte (75 a 80%), variando significativamente na quantidade e na distribuição quer num mesmo ano, quer de ano para ano. As precipitações são fortemente influenciadas pela proximidade do mar.
Geomorfologicamente o Distrito é dominado pela planície sedimentar de cobertura arenosa na faixa costeir

sui vias de acesso aceitáveis, ou seja razoáveis, visto que é terra batida. Beneficia de rede de telefonia móvel (Mcel) e o canal televisivo da TVM.
No território do distrito de Pebane não existem caminhos de Ferro, nem estradas alcatroadas, o distrito sentiu as acções da guerrilha anti-revolucionaria com ataques e incêndios de casas e aldeias inteiras nas proximidades da sede do distrito. O estado de guerra que se viveu em Pebane deixou marcas indeléveis no seio da comunidade; obras destruídas, muitas mortes, epidemias de fome e doenças criando-se um estado de miséria generalizada.
Do ponto de vista religioso, a população do distrito pode dividir-se em três grandes grupos; religião tradicional Africana, o Islão e o Cristianismo. Há também uma minoria de outras religiões, mas a maior parte dos religiosos encontram-se inseridos no Islamismo, esta religião teve maior predominância neste distrito devido a influências dos árabes, durante as suas rotas marítimas.

1.4. Mapa do distrito


Cap. II. Características gerais do povo Macua-lomué
2.1. Situação geográfica
O povo macua-lomué vive, actualmente numa grande área do norte de Moçambique, com cerca de 300000 Km2 abrange parte das províncias de Cabo-delgado, Niassa, Nampula e Zambézia. A região conhecida tradicionalmente por Macuana ou wanphula, é delimitada a norte pelo rio Rovuma, a leste pelo oceano Índico, a sul pelo rio Licungo nas proximidades do rio Zambeze e a oeste pelo rio Lugenda.
Este povo surge a partir da divisão de uma árvore chamada macua, devido a existência de varias zonas com o povo Macua, houve sempre a necessidade de se deslocar este povo para vários cantos do país, e cada local onde se instalava o povo Macua era chamado por outro nome, portanto este povo é vasto podemos encontrar nos distritos de Mecanhelas (Niassa), Malema, Ribaué, Murupula, Moma (Nampula); Ile, Gilé, Alto- Molocué, Gurué e Pebane (Zambézia).

2.2. Origem do povo Macua-lomué
Há várias interpretações sobre a etimologia, significado e escrita da palavra (macua), desde há hipótese de que é palavra injuriosa (equivalente a selvagem, barbaro, não-civilizado), até à afirmação de que significa de Goa (= Makoa). Os lomués são povos oriundos de Macua, segundo a história, diz-se que a sociedade Macua está ligada a mitos; sobre a origem do mundo e do homem. Eles aprontavam o monte Namuli situado no distrito de Gurué (Zambézia), com 2419m de altura.
Segundo a tradição, os primeiros homens depois de serem criados por Deus, nas grupas da serra de Namuli; eles organizavam grandes viagens ate as planícies descendo por vários caminhos e na medida que se multiplicavam iam-se repartindo, dando origem a vários grupos macua compõe o Lomué.
Este grupo é conhecido também por Lomué; que tradicionalmente ELOMUÉ, dentro dos Lomué existem vários subgrupos como: Amalessane, Amole; Amulima, Amaloa, Ahabo, só para citar.
Os lomué caracterizam-se pela forma de articulação das palavras, tradicionalmente usam a vogal (A) para designar o grupo de animais e (E) para designar os objectos; por exemplo: Atitio ou Atata (tio), Atxo (pessoas); Eipha (enxada), Ecadeira (cadeira).
Algumas designações que surgem para designar o povo Macua:
Mulomué- Falante de Lomué; E- Lomué- O lomué; A-Lomué- Os Lomués

Cap. III Organização Sócio-político

As formas de ordenação política e as expressões de direito são muitas e correspondem à múltipla variedade das culturas. Na sociedade macua-Lomué os grupos pertencentes a macua-lomué não vivem isoladamente, e nem nascem sozinhos, mas sim, procuram manter um colectivo ou vizinhança, de modo que os mitos continuem a ser aceites, ou seja, evita a mistura segundo o enigma que diz: Para ele ser é fundamental estar em relação com outros, por isso, para conhecer o povo macua-lomué é preciso conhecer adequadamente as suas estruturas políticas e sociais, onde se encontram as relações de humanidade.
3.1. Autoridade

O povo macua-lomué é constituido por uma justaposição (unidades) de união entre famílias formadas por grupos de parenteses unilineares, uxorilocais e exogâmecas. O parentesco mergulha as raízes no ordenamento da natureza humana, mediante o qual o homem se divide em macho e fêmea, mutuamente atraídos na relação sexual necessária para a geração e continuidade da espécie. O parentesco é um vínculo que liga os indivíduos entre si com vista à geração e à descendência.
3.1.1.O NLOKO (Linhagem)

Linhagem é um grupo de pessoas descendentes de um mesmo antepassado cujo vínculo de descendência é genealogicamente demonstrável e não pressuposto miticamente. Uma vez que o povo Macua-Lomué tem uma linhagem materna, considera-se o NLOKO, como o conjunto de unidades uterinas (ERUKULO), em que todos os membros se consideram irmãos legítimos (NLOKO NIMOHA). O mais velho dos NLOKOS, é considerado como NIKOLO e é o dirigente da família que se forma. Entre os Macua-Lomué, grupo de família NLOKO é o homem mais velho aquem manda noutros membros de familias. Este homem, é o tio materno chama (ATATA).

3.1.2. O NIHIMO (Tribo)

De acordo com BERNARDI tribo é um conjunto de pessoas unidas por descendência, ou é um grupo de população distinto, por parte dos seus membros e dos outros com base em critérios culturais regionais. Na sociedade Macua-Lomué todos os membros de unidades uterinas (NLOKO) usam o mesmo apelido familiar, chamado (no plurar, MAHIMO) que deriva do antepassado fundador e transmite-se matriliarmente.
Ter o mesmo NIHIMO significa pertencer ao mesmo NLOKO que implica fundamentalmente três coisas:
  • Um aspecto afectivo entre os membros: as relações de respeito íntimo;
  • Etiqueta própria: leis convencionais e procedimentos assumidos pela comunidade;
  • Aspectos jurídicos: deveres e direitos positivos e negativos, que orientam as mutuas relações.

3.1.3. O MWENE
É o chefe máximo do povoado, este é responsável da comunidade, celebra todos os eventos importantes da região, é o coordenador do conselho constituído pelo grupo dos tios mais velhos de cada família (ATATAS).
A direcção do chefe máximo é acompanhada por dois grupos importantes, os velhos e a irmã, mais velha do chefe máximo.

3.2. Símbolos de autoridades
O chefe máximo do povoado (MWENE), é visto como a estrutura mais poderosa daquela comunidade, por isso tem características que o identificam durante o processo de governação, podemos aqui destacar:
  • Um chapéu de cor preto, feito de pano ou tecido de caqui;
  • Alguns instrumentos feitos a partir da pele de animais de grande porte;
3.3. Formas de poder
O poder do chefe máximo do povoado, é represeMapa de Moçambique com o destaque a província da Zambézia, (distrito de Pebane)ntativo e ao mesmo tempo simbólico, porque:
  • É representativo, no caso em que o rei é empossado pelo antigo rei, ou seja quando for uma sucessão do tio (antigo MWENE), para o sobrinho (novo MWENE).
  • É simbólico, no caso em que não existe uma sucessão, acontece quando o antigo MWENE por motivos de força maior deixa o poder e nesse caso quando o MWENE não tiver um sobrinho materno, mais velho capaz de dirigir o povoado.

3.4. Formas de casamento (Matrimónio)
3.4.1. O casamento na sociedade macua-lomué

De acordo com BERNARDI, O matrimónio é uma relação sexual entre dois indivíduos de sexo diferente socialmente sancionada com vista à procriação e à inculturação dos filhos; RADCLIFFE-BROWN define matrimónio como uma ordenação social por meio da qual a criação recebe uma posição legítima na sociedade determinada pelo parentesco.
O casamento é um acontecimento que ocupa lugar importante no ciclo da vida. É a terceira fase do ciclo. Pelo casamento o homem e a mulher, formando a célula mais elementar na sociedade, colocam-se ao serviço directo e concreto da transmissão da vida. Desta maneira integram-se na corrente vital participando na função dos antepassados, intermediários entre a fonte original e os homens. O casamento tem o seu funcionamento neles e a sua raiz esta na fonte vital. O tal propósito, o pensamento macua-Lommué é muito claro: OTHELANA ORIMWA MAKHOLO (o casamento fundamenta-se nos antepassados).
O homem e a mulher macua-Lomué anseiam pela descendência e fazem o possível para conseguir. O primeiro objectivo da união matrimonial é a transmissão da vida. O homem e a mulher ao casarem – se colocam-se, a serviço da vida e aos instrumentos comunitários através dos quais a comunidade recebe a vida como um dom e transmitem-na como uma homenagem a que já lhe deu.
3.4.2. Factores económicos 
 
Apesar de não existir, na sociedade macua, a instituição do dote matrimonial, o factor económico do casamento é importante. Neste caso, quem enriquece é a família da noiva, porque é esta que cresce com um novo membro. Com os serviços que o noivo prestará, com o seu trabalho, a família da mulher crescerá, não só em número como economicamente.
3.4.3. A Exogâmia 
 
Os macuas-lomué devem casar-se fora da linhagem, pelo que o casamento é exogâmico. É proibido casar dentro do próprio grupo familiar entre aqueles que tem o mesmo apelido. Por isso a tradição aconselha-se muito cuidado em saber, desde o início, a que linhagem pertence cada um dos futuros cônjuges para não incorrerem na proibição do casamento entre pessoas da mesma linhagem.
3.4.4. Residência Matrimonial
Dependendo das normas matrimoniais podem ser patrilocaMapa de Moçambique com o destaque a província da Zambézia, (distrito de Pebane)l ou matrilocal segundo tenha de residir junto do pai ou da mãe. Mas em virtude de os dois termos não especificarem se se trata do pai e da mãe do marido ou da mulher e deixam grande margem de incerteza. De acordo com FIRTH, os termos virilocal e uxorilocal, são as mais adequadas para designar a residência matrimonial.
Na sociedade Macua-Lomué O novo agregado familiar, que nasce com um casamento, constrói a própria casa perto da residência dos pais da noiva. Normalmente se situa na localidade dos grupos de famílias matrilineares da noiva. Por isso podemos falar do modelo de residência uxorilocal e, mais concretamente, matrilocal.


3.5. Concepção de família
Os grupos de parentesco mais vulgares são a família, a linhagem e tribo.
A família é um menor grupo do parentesco e da sociedade. De acordo com BERNARDI as formas de família são múltiplas e a organização social não é tão rígida. A natureza da família apresenta-se complexa em todas as suas formas quer pelos elementos que a compõem quer pela multiplicidade de funções que desempenha e das estruturas que apresenta.
3.5.1.Formas plurais de família
São múltiplas as formas de família, sendo as mais típicas:
Família nuclear ou conjuntas: 
 É simples e elementar porque, na ordem do parentesco não há um grupo tão essencial tratando-se de um grupo mínimo e irredutível, e fundamenta-se na união entre homem e mulher casados.
Família doméstica: 
 O fulcro desta unidade social é a cooperação, inclui os adstritos a serviços especiais.
Família Composta: 
 É oposta a família nuclear e dá relevo à contenção da fixação genealógica.
Família poligínica: 
 Articula-se sobre o pluralidade de mulheres corresponderem a exigências sociais e sobretudo económicas, o prestígio que o homem obtém com mais mulheres de autoridade e de poder na sociedade, mas constitui também exibição e forma de riqueza, na divisão do trabalho, cabe à mulher o trabalho dos campos e muitas mulheres produzem muita colheita.
Família poliândrica: Possui uma estrutura totalmente diversa, que se articula sobre a pluralidade do marido.
Cap.IV  Ritos 
 
Ritos são experiências vividas para garantir a maturidade das crianças, os ritos podem ser quentes ou frios.
Quentes são aqueles que se repetem muitas vezes durante a vida e frios são aqueles que não se repetem ou seja acontece apenas uma vez.
4.1. O nascimento (oyariwa)

O nascimento de uma criança é um dos acontecimentos mais importantes da sociedade macua-lomué. Ela é desejada e esperada pelos pais, responsáveis, membros da família e por toda sociedade porque todos amam a vida e desejam que esta continua. Um filho significa para família e para a sociedade, a esperança concreta que a vida não acaba, é o sinal que os antepassados continuam a ser intermediários entre a fonte da vida e a sociedade. Por isso o nascimento de uma criança é motivo de festa.
4.2. A confissão ritual das faltas (OLAPHULE).

Se o parto difícil ocorre-se às praticas rituais de emergência. Em primeiro lugar, uma das anciãs assistente ao parto fala com o marido para que este ponha as coisa de casa( especialmente a roupa) ao ar livre e adopte, mesmo na maneira de vestir, uma atitude de tristeza. Se os problemas continuam, então deve consultar-se imediatamente o especialista de averiguação e realizar-se o rito de confissão das faltas (olaphulela). É um rito de auto-critica e de conciliação.
A parturiente deve confessar as instrutoras (anamuku). Neste rito a parturiente pode insultar o marido e descobrir as desavenças conjugais ocultas. Nascido a criança, a instrutora principal (Namuku) corta o cordão umbilical e acta o umbigo. Imediatamente as anciãs lhe dão o primeiro banho com água preparada nesse momento e nunca com anterior existente. O primeiro banho é ao mesmo tempo uma medida de higiene e um rito de purificação.
4.3. Anúncio

No nascimento de uma criança as mulheres gritam ELULU para manifestar a alegria pelo êxito do parto. O grito pode ter maior ou menor duração, conforme o sexo da criança: será mais prolongado se se tratar de uma menina, porque a menina no futuro ira aumentar a família e não abandonara a casa; pelo contrário o grito por um menor terá menor duração, porque este quando for adulto abandonará a sua casa para beneficiar o crescimento de uma família distinta da sua.
4.4. O rito de agregação 
 
Depois de 8 dias do parto e de cicatrizar a ferida do umbigo, realiza-se uma cerimónia designado por fogo apagado (OTXIPIHIA MORO). Neste processo dá-se banho ritual (ORAPIHIWA MWANA), cortam o cabelo (OKWATXA MAHI), e assim a criança tira-se para a sociedade em geral e é atribuído o nome (OVAHIWA NSINA).
4.5. Proibições rituais (MWIKHO)
Há uma série de proibições rituais que os pais do recém-nascido têm de observar, desde a data de nascimento até ao dia dos ritos do fogo apagado. Este período de tempo vai normalmente de um ano e meio a dois.
As proibições mais importantes são:
  • Os pais do recém-nascido não podem fazer sexo durante todo o período de amamentação;
  • O pai não pode entrar dentro da casa para ver a criança antes de se realizar a cerimónia de fogo apagado;
  • A mãe deve abster-se durante todo o período de amamentação da criança;
  • A mãe não deve acender fogo, cozinhar para o marido e preparar-lhe água para o banho antes do fogo apagado;
  • Durante este período de tempo, todas anciãs devem abster-se de relação sexual;
  • As pessoas solteiras não podem pegar na criança até ao referido dia cicatrização do umbigo.
4.6. O desmame

Depois de a criança começar a caminhar, realizam-se ritos de desmame. Este rito consiste, fundamentalmente num banho da criança, a qual assistem todos os membros da família chefe da aldeia (MWENE), o chefe da linhagem e as restantes famílias. É um rito de purificação de integração definitiva da vida. Depois do banho e ungido todo corpo da criança com óleo.
Durante este rito, o chefe da aldeia faz uma exortação aos pais da criança sobre o bom comportamento. A mãe oferece uma galinha como agradecimento. A partir deste momento, os pais da criança podem começar as relações conjugais íntimas e todas as actividades familiares e sócias.

4.7. Iniciação masculina

Com o nascimento e os ritos correspondente a criança não fica completamente integrado na sociedade. O seu verdadeiro nascimento social ocorrerá com a participação nos ritos de iniciação em macua (WINELIWA).
A sociedade macua-lomué ritualiza a passagem da adolescência para o estado adulto em ambos sexos havendo ritos próprios para os rapazes (OCILEIWA), para raparigas (EMWALI).
Pela iniciação, o indivíduo passa da infância a idade adulta, participando nos ritos de iniciação, o jovem adquiri a maioridade e toma consciência da própria identidade e do lugar que lhe compete na comunidade, pode tomar parte do pleno direito em todas actividades da sociedade (casar-se, participar nos sacrifícios tradicionais, sentar no meio dos adultos, falar publicamente nas reuniões dos adultos).
Os ritos de iniciação são, em primeiro lugar, ritos de separação, o jovem abandona a sua infância anterior, em segundo lugar são ritos liminares pelos quais o indivíduo vive uma particular transformação da sua personalidade em clima de separação física e social; e, em terceiro lugar o rito de incorporação na situação normal da sociedade.

4.7.1. Ritos preliminares (sua preparação).

A criança, entre os 8 e 12 anos os responsáveis das respectivas famílias, reúnem-se e discutem, e apresentam a questão ao chefe da aldeia, para que comunique ao chefe máximo (MWENE), por sua vez o mwene anuncia oficialmente a celebração dos ritos de iniciação, os rapazes (OCILEIWA). O MWENE antes de anunciar reúne com os seus conselheiros chefes da linhagem, os anciãos e outras pessoas importantes (MAKOLO). Normalmente o rito de iniciação dos rapazes nas sociedades macua- lomué faz-se em cada dois ou três ano conforme o número de rapazes que existe no povoado. O tempo mais é no inverno calhando nos meses de Julho, Agosto e Setembro, tempo de frio e seco.
4.7.2. Inauguração da iniciação (corte de cabelo)
Na manha do dia indicado para o inicio dos ritos, na casa de cada um dos iniciados realiza-se o rito preliminar do cabelo (OTXEMIWA). Faz se sacrifício tradicional pelos representantes da família (ATATA) e o chefe da linhagem.
Refeições comunitárias
É uma constituição da festa, prepara-se papa de farinha de milho (EXIMA) sem açúcar e sem sal, mais outra refeição com carne de galinha, de cabrito, de Javali ou antílope.
4.7.3. O fogo novo
Neste processo, acaba a festa os iniciados e os seus familiares reúnem-se em casa do chefe do chefado (MWENE) e passam a noite a volta da fogueira celebrando o começo da iniciação, cantam e dançam.
Marcha para o acampamento no dia seguinte os iniciados (ALUKHU) acompanhados pelo chefe da família (ATATA) e outros familiares próximos, pelo MWENE, instrutores (ANAMUKU), o direito a iniciação, os padrinhos (AMOLE), deixam a aldeia e encaminham-se para o acampamento chamado (ONVERANI), um lugar escolhido e escondido na mata.
Cada família reúne-se três dias para passar os dias de festa de iniciação.
Ao terceiro dia os iniciados tomam a refeição ritual no acampamento chamado EPILIKO. Os remédios para iniciação e os instrumentos necessários para os ritos de iniciação ficam nos centros das instalações do acampamento, num monte de areia, esses medicamentos tem nome simbólico de cauda (MWILA).

4.7.4. A circuncisão

No dia seguinte, a refefeição ritual do EPLIKO, o MWENE, com uma vara nas mãos (MUKOSI) bate no recepiente contendo remédios, que se encontra no centro de acampamento, cada LUKHO acompanhado pelo seu sobrinho aproxima-se do local. Ao chegar ao local, indicado pelo chefe, o padrinho coloca-se com o afilhado junto do director da iniciação e os restantes ajuntantes, com o movimento rápido, coloca-se ao chão o rapaz. Nesta posição, o circunsizante corta uma parte do percúcio. As gotas de sangue são recolhidas imediadamente e posto num lugar apropriado para posteriorimente prepara-se uma comida ritual.
O recém-circunsizante, senta-se no chão com as pernas abertas e as mãos faz o pó para ajudar a cicatrizar a siua ferida. Passado algumas horas o padrinho coloca no pénis do seu afilhado uma rodilha ou uma argola de folhas e amara-lhe com uma corda atráz como forma de fixar. Esta argola tem o nome de EKHARA. Seguem os cânticos de intruções denominadas de NTHURKWE, já conhecidos por parte dos circunsizantes.
Terminado rito, dirigem-se ao local chamado NAMUHAKA, para recebem os ritos (conselhos de boa conduta), tais ritos são:
  • Iniciação nas tradições do povo, ritos de origem e histórias do povo, lendas, personagens importantes.
  • Iniciação a vida: é a iniciação do comportamento social.

4.7.5. As proibições rituais (MWIKHO)
Os jovens que não participam nos ritos de iniciação devem observar as seguintes proibições durante tempo de iniciação:
  • Não pode tomar banho nem lavar-se, com excepção banhos rituais,
  • Não usar roupa que usam normalmente, de facto vestem-se de farrapos e andam quase nus;
  • Tem de se abster de alimentos preparados por mulheres;
  • Não podem comer alimentos, que pela sua cor, tamanho ou forma possa assumir um valor simbólico;
  • Não podem se afastar do acampamento
4.7.6. Proibições aos pais.
  • Não podem tomar banho durante o período de iniciação
  • Não podem se vestir com elegância nem roupa nova
  • Não podem pentear
  • Devem comer comida sem sal
  • Não podem manter relações sexuais durante esse período


4.7.7. Imposição de nome (OVAHYWA NSSINA)Mapa de Moçambique com o destaque a província da Zambézia, (distrito de Pebane)
O nome indica ao mesmo tempo um estado ´´ dimensão essencial ´´e uma missão (dimensão funcional), e pode relacionar com a anterior vida do jovem, com algum acontecimento familiar ou com algum pressentimento.
A imposição do nome confere por ordem de prioridade ao chefe de família ou pais do jovem, e outras pessoas particularmente relacionada com a família. Entre a pessoa que dá o nome a que recebe restabelece-se uma relação de facto e respeito e observa-se uma determinada etiqueta. Os nomes da comunidade Macua-Lomwe, tem um determinado valor cultural que podemos s esquecer. O nome identifica a pessoa que liga-se ao mundo dos antepassados e indica também uma missão na vida.

4.7.8. Intrusão

As instruções que os rapazes recebem durante o período que passa no acampamento NVERA, são os seguintes:
  • Aprender a caçar;
  • Aprender certos trabalhos que lhes serviram no futuro;
  • Aprender a enterrar os mortos.

4.7.9. Proibições rituais
As proibições gerais (MWIKHO), nesta fase dos ritos de iniciação são as seguintes proibições:
  • Silêncio: os rapazes não podem falar com os chefes do acampamento.
  • Abstinência alimentar: Proibição de consumo de mel, ovo e comidas com sal ou pimenta. Também não podem comer peixe de cor escura e nem carne de galinha.
4.7.10. Ritos finais

Acabada a iniciação, há destruição do acampamento (NVERA).
O director da iniciação ordena a realização dos últimos ritos e encerramento da iniciação.

4.8. Iniciação feminina

Paralelamente aos ritos de iniciação masculina, existem na sociedade Macua-Lomué, ritos próprio para a iniciação feminina chamada EMWALI. Estes ritos diferenciam-se dos ritos de iniciação dos rapazes pelo facto do conteúdo das instruções, pelas pessoas que nela participam, pela data de celebração, pela sua duração, pelo seu lugar e pela menor solenidade das cerimónias.
Até a realização dos ritos, rapariga macua-lomwe fica ligada estreitamente a mãe, num ambiente de total confiança e liberdade, sem discriminação sexual e à margem de vida social
A primeira educação, básica e genérica ao mesmo tempo sugere-se na ordem do tempo e da importância, a iniciação propriamente dita na vida sócia, ou seja a verdadeira passagem de menina para jovem (EMWALI), trata-se da descoberta e assimilação da rapariga e faz a sua própria personalidade e do plano acesso à vida social.

4.8.1. Ritos preliminares
A iniciação da rapariga inicia desde pequena ate progrida para participar nos ritos propriamente ditos da iniciação não é necessariamente obrigatório que ainda não tiveram a primeira a primeira menstruação. Por vezes juntam-se raparigas que ainda não tiveram a primeira menstruação com outras já menstruadas, neste caso, durante a instrução (IKANO), são divididas em dois grupos.
Os ensinamentos consistem fundamentalmente, no seguinte:
  • Explicar sobre o facto fisiológico da menstruação e sobre cuidados higiénicos que a jovem devem ter de então para diante.
  • Como se pode comportar perante a sociedade (durante a menstruação não pode falar com os homens, deve respeitar os adultos e, de modo particular as instrutoras, comporta-se com o público.
  • A forma de vestir durante esse tempo, a rapariga não pode usar roupa de todos os dias, muitos menos a roupa do dia de festa, também não se pode embelezar;
  • A alimentação – deve abster-se de certos alimentos, como o caso de ovo (NOTXE), e peixe (MUKOPO). Deve comer papas de milho (EXIMA) mal cozidas com folhas de mandioca e feijão.
  • Trabalhos caseiros: preparação de comida, limpeza de casa, evitar fazer refeições para os homens, na altura de menstruação.
  • Proibições de relações sexuais tratando-se duma rapariga já casada, ficam proibidas as relações sexuais durante o tempo da iniciação.

4.8.2. Período de entrada
O ritual usado é normalmente, o que se usa para entrada para os rapazes na iniciaçaão.

4.8.3. Instrução (OLAKA)

A instrução, que começa com a primeira fase de iniciação é que continuará ápos a conclusão dos ritos, principalmente a no período de gravidez e na celebração de casamento, agora, nesta segunda fase é mais intensiva, adquire uma totalidade mais formal e abrangente a educação em todos os aspectos da vida. Esta educação, para além de preparar as jovens para assumirem a sua responsabilidade na sociedade, promove nelas legalidades às instruções comunitárias. As mestres, no seu discurso educativo usam linguagem simbólica, acompanhada de gestos, enigmas, cânticos formas literárias que ajudam as jovens a fixar os ensinamentos recebidos.
As instruções para além de iniciarem os jovens para a vida sexual, educam-nas e preparam-nas para a vida familiar e social.
As raparigas aprendem a cumprimentar os adultos, os superiores e todas as outras pessoas. Sempre que tenha que entregar alguma coisa ao marido, aos pais e as outras pessoas mais importantes devem fazê-los de joelhos e com as duas mãos. É lhes ensinado que não podem casar com pessoas da mesma linhagem, sendo obrigadas a conhecerem o apelido (NIHIMO) do jovem com quem se querer casar. Aprendem como se deve comportar na vida conjugal, neste campo, devem ter cuidado em abster-se de relações sexuais durante a menstruação porque é proibido por tradição.
Para evitar o marido de que estão menstruadas, deixam na cama uma porcelana de sementes vermelhas, quando acabam a menstruação, deixa na cama uma porcelana de sementes brancas. Desta forma, o marido sabe como se deve portar para não transgredir as leis tradicionais.

4.9. Morte
Chegando o momento da morte, quando o moribundo (MULIPA OLUWELA) espira, o familiar que anteriormente lhe humedecia a boca diz aos parentes “ deixou o coração” (OHIA MURIMA). Observa-se então uma figura de estilo que equivale dizer “morreu”. Então fecham-lhe os olhos e a boca, colocam-no deitado na esteira, coberto com um pano. Imediatamente as mulheres presentes gritam e choram de dor. Os homens não devem gritar nem chorar, podem somente soluçar.
Passados alguns momentos leva-se o cadáver para o banho duplo, com valor higiénico e purificador. Normalmente isto é feito com água quente preparada no momento. As mulheres encarregadas de o fazer são as familiares mais próximas do defunto e as amigas da família.

4.9.1. Preparação do inteiro
O tio materno mais velho do falecido ou, na falta deste, o que segue por ordem de importância na família assume a responsabilidade de organizar a cerimonia para a realização dos ritos fúnebres, distribuindo os encargos entre os familiares e pessoas mais chegadas: uns encarregam-se de tratar do cadáver com varias abluções e unções e de o envolver num pano grande e numa esteira; outros preparam a cova, no lugar indicado pela família; outro grupo prepara a cova, no lugar indicado pela família; outro grupo prepara a comida para todos os que participara no funeral e a água para as abluções.

4.9.2. O lugar da sepultura
A sepultura do cadáver faz-se, normalmente, num lugar escolhido pelo tio materno mais velho do defunto fora da aldeia, afastado dos caminhos, entre as árvores do bosque.
Quando se trata de chefe da aldeia ou do régulo, costuma escolher-se um lugar especial, perto da sua casa. A cova (MAHIYE) tem um ou dois metros de profundidade, conforme a idade do falecido (mais ou menos, conforme o defunto é mais velho ou mais novo), tem no fundo ou ao lado esquerdo, conforme os gostos, um nicho ou cova secundaria, que é o lugar exacto onde é deposto o cadáver.
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Cova com nicho no fundo
Legenda
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Cova com nicho lateral

-Nivel do terreno
 
 
 
 
 
 
 
 
 UP-Beira
2011
Gelito Jose Arigora 
Gilberto Armando Antonio 

8 comentários:

  1. foi muito o que pode ver neste blogger.falaste um pouco de tudo que o povo macua, lomue e muniga faz. olha, nao falaste da ligua muniga, uma vez que a faxa costeira do distrito de pebane em direccao a maganja da costa falam esta lingua. me refiro da comunidade do povoado de impaca, magica, nicadine, pebane-baixa, wanchee, e sobre tudo as pessoas que se encontram nas encostas do rio muniga.

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  2. desculpa pela minha ignorancia, ou talves a lingua muniga nao se deve fazer referencia.
    ou por outra nao chega a ser considerada como se fosse lingua?

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  3. desculpa pela minha ignorancia, ou talves a lingua muniga nao se deve fazer referencia.
    ou por outra nao chega a ser considerada como se fosse lingua?

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  4. muito interessante a aborgem e muito profunda na medida em que nos da a entender a natureza da comunidade macua. muito boa a investigacao.

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  5. gostei muito desse artigo, acho que falaram tudo sobre este grupo.

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  6. Gostei da abordagem acho falaram pouco de tudo

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  7. Bom isso é muito bom gostei bastante mais faltou o povo o muniga mais a língua munga é uma língua macua especificada e falada especialmente no distrito de pebane em algumas localidades tas como inpaca,magiga,nicadhine e nas proximidades da vila de pebane.em baijone também uma parte da população fala muniga.muito obrigado por ter postado este artigo.

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  8. Gostei imenso do conteúdo ca encontrado. Ajoudou-me a a inaltecer do infimó que tive como conhecimento.

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