O povo Macua-Lomue da Zambezia (Pebane)
Autores: Gelito Jose Arigora e Gilberto Armando Antonio
Introdução
O presente trabalho
aborda acerca do grupo étnico Macua-Lomé. O trabalho conte temas
tais como: O
distrito de Pebane,
Situação geográfica, Clima, Relevo e Solos, Infra-estruturas
Características gerais do povo Macua-lomué, Origem
do povo Macua-lomué, Organização Sócio-político, Autoridade, O
NLOKO (Linhagem),
O NIHIMO (Tribo),
O MWENE, Símbolos de autoridades, Formas de poder,
Formas de casamento (Matrimónio), O casamento na sociedade
macua-lomué, Factores económicos, A Exogâmia, Residência
Matrimonial,
Concepção de família Formas plurais de família, Ritos, O
nascimento (oyariwa), A confissão ritual das faltas (OLAPHULE),
Anúncio, O rito de agregação, Proibições rituais (MWIKHO), O
desmame, Iniciação masculina, Ritos preliminares (sua preparação,)
Inauguração da iniciação (corte de cabelo), O fogo novo,
A circuncisão, As proibições rituais (MWIKHO), Proibições aos
pais, Imposição de nome (OVAHYWA NSSINA), Intrusão, Proibições
rituais, Ritos finais, Iniciação feminina, Ritos preliminares,
Período de entrada Instrução (OLAKA), Morte, Preparação do
inteiro, O lugar da sepultura, O funeral, Práticas sócio-culturais
e económicas, Formas de economia, A recolha, A caça, Agricultura,
Preparação do terreno, A sementeira (WALA) A colheita Mudanças de
alimentação, Domínio do Simbólico, Praticas Mágicas-Religiosas,
Hierofanias.
O
objectivo do trabalho e dar a conhecer sobre o grupo étnico
Macua-Lomué quanto a cultura, modos e hábitos de vida. O método
usado neste trabalho é de pesquisa bibliográfica, com o apoio das
técnicas como a entrevista e colecta de dados. Consistindo assim na
interpretação dos textos e métodos de recolha de dados
bibliográficos.
No
final do trabalho anexamos imagens do povo macua-Lomué.
O GRUPO ÉTNICO
MACUA-LOMUÉ
O distrito de
Pebane
1. Situação
geográfica
O distrito de
Pebane localiza-se no Nordeste da província da Zambézia, sendo
limitada a Norte pela Província de Nampula através do distrito de
Moma, a Sul com o Distrito de Gilé, a Oeste com os Distritos de Ile
e Maganja-da-Costa e a Este pelo Oceano Índico.
Com uma superfície1
de 10.086 km2 e uma população recenseada em 2007 de 185.33
habitantes,
o distrito tem uma densidade populacional de 18.20 hab/km2.
A relação de
dependência económica potencial é de aproximadamente 1:1, isto é,
por cada 10 crianças ou anciões existem 10 pessoas em idade activa.
1.2. Clima,
Relevo e Solos
O clima do distrito
é predominantemente do tipo “Tropical chuvoso de savana (AW)”,
com duas estações distintas, a estação chuvosa e a seca. A
precipitação média anual está na ordem de 1.286 mm e a
evapo-transpiração de referência média anual de 1.514 mm.
A maior queda
pluviométrica ocorre no período compreendido entre Dezembro de um
ano a Abril do ano seguinte (75 a 80%), variando significativamente
na quantidade e na distribuição quer num mesmo ano, quer de ano
para ano. As precipitações são fortemente influenciadas pela
proximidade do mar.
Geomorfologicamente
o Distrito é dominado pela planície sedimentar de cobertura arenosa
na faixa costeira e pelos sedimentos consolidados do Soco do
Precâmbrico no interior, sendo ambas unidades interceptadas pelas
linhas de drenagem natural onde ocorrem os sedimentos mais recentes –
estuarino-marinhos na faixa costeira e aluvionares no interior. A
faixa costeira compreende ainda solos arenosos amarelados,
esbranquiçados modificados pelo hidromorfísmo. Mais para o
interior, predominam solos residuais do Soco Precâmbrico derivados
de rochas ácidas e básicas.
1.3.
Infra-estruturas
O distrito de Pebane
é servido por transporte rodoviário e marítimo. Nenhuma das vias
rodoviárias
do distrito beneficiou de obras de reabilitação, mas apenas de
alguns trabalhos de manutenção periódica nas estradas que ligam a
sede a Maganja da Costa, via Mocubela, e a Mulela.
A reabilitação de
estradas terciárias terá um impacto importante em vários sectores
de actividade, intensificando a circulação de bens e pessoas, a
comercialização agrícola e o escoamento do pescado.
O distrito tem 3
aeródromos (1 inoperacional). O Porto de Pebane não está
operacional.
O distrito tem uma
cabina telefónica instalada na Vila sede, o que permite comunicações
para qualquer parte do mundo. Da Administração da sede do distrito
para os Postos Administrativos, as comunicações são feitas via
rádio.
O acesso à água
potável é uma necessidade ainda não coberta em todo o distrito,
havendo comunidades que se deslocam até 12Km até à fonte mais
próxima. Em algumas comunidades, poços e furos, equipados com
bombas manuais, garantem água durante todo o ano.
Para abastecimento
da população em água potável, o distrito tem 159 fontes (38
inoperacionais). Importa referir que a maioria destas fontes está
concentrada na Sede do distrito e PA de Mulela, havendo por isso um
desequilíbrio em relação ao PA de Nabúri que apenas possui 3.
Este desequilíbrio justifica-se pelo facto de a ponte que liga a
sede daquele Posto ter sido destruída durante o conflito armado e só
ter sido reabilitada em 2002.
Este distrito sofreu
uma guerra de desestabilização, tendo destruído grandes edifícios
do governo, contudo o distrito é dirigido por um administrador
distrital e seus três chefes dos postos administrativos que compõem
o distrito nomeadamente (Mulela, Nabúri e Vila do distrito), segundo
a actual divisão administrativa.
O distrito pos
tações distintas, a estação chuvosa e a seca. A
precipitação média anual está na ordem de 1.286 mm e a
evapo-transpiração de referência média anual de 1.514 mm.
A maior queda
pluviométrica ocorre no período compreendido entre Dezembro de um
ano a Abril do ano seguinte (75 a 80%), variando significativamente
na quantidade e na distribuição quer num mesmo ano, quer de ano
para ano. As precipitações são fortemente influenciadas pela
proximidade do mar.
Geomorfologicamente
o Distrito é dominado pela planície sedimentar de cobertura arenosa
na faixa costeir
sui
vias de acesso aceitáveis, ou seja razoáveis, visto que é terra
batida. Beneficia de rede de telefonia móvel (Mcel) e o canal
televisivo da TVM.
No território do
distrito de Pebane não existem caminhos de Ferro, nem estradas
alcatroadas, o distrito sentiu as acções da guerrilha
anti-revolucionaria com ataques e incêndios de casas e aldeias
inteiras nas proximidades da sede do distrito. O estado de guerra que
se viveu em Pebane deixou marcas indeléveis no seio da comunidade;
obras destruídas, muitas mortes, epidemias de fome e doenças
criando-se um estado de miséria generalizada.
Do ponto de vista
religioso, a população do distrito pode dividir-se em três grandes
grupos; religião tradicional Africana, o Islão e o Cristianismo. Há
também uma minoria de outras religiões, mas a maior parte dos
religiosos encontram-se inseridos no Islamismo, esta religião teve
maior predominância neste distrito devido a influências dos árabes,
durante as suas rotas marítimas.
1.4. Mapa do
distrito
Cap. II.
Características gerais do povo Macua-lomué
2.1. Situação
geográfica
O povo macua-lomué
vive, actualmente numa grande área do norte de Moçambique, com
cerca de 300000 Km2
abrange parte das províncias de Cabo-delgado, Niassa, Nampula e
Zambézia. A região conhecida tradicionalmente por Macuana ou
wanphula, é delimitada a norte pelo rio Rovuma, a leste pelo oceano
Índico, a sul pelo rio Licungo nas proximidades do rio Zambeze e a
oeste pelo rio Lugenda.
Este povo surge a
partir da divisão de uma árvore chamada macua, devido a existência
de varias zonas com o povo Macua, houve sempre a necessidade de se
deslocar este povo para vários cantos do país, e cada local onde se
instalava o povo Macua era chamado por outro nome, portanto este povo
é vasto podemos encontrar nos distritos de Mecanhelas (Niassa),
Malema, Ribaué, Murupula, Moma (Nampula); Ile, Gilé, Alto- Molocué,
Gurué e Pebane (Zambézia).
2.2. Origem do
povo Macua-lomué
Há várias
interpretações sobre a etimologia, significado e escrita da palavra
(macua), desde há hipótese de que é palavra injuriosa (equivalente
a selvagem, barbaro, não-civilizado), até à afirmação de que
significa de Goa (= Makoa). Os lomués são povos oriundos de Macua,
segundo a história, diz-se que a sociedade Macua está ligada a
mitos; sobre a origem do mundo e do homem. Eles aprontavam o monte
Namuli situado no distrito de Gurué (Zambézia), com 2419m de
altura.
Segundo a tradição,
os primeiros homens depois de serem criados por Deus, nas grupas da
serra de Namuli; eles organizavam grandes viagens ate as planícies
descendo por vários caminhos e na medida que se multiplicavam iam-se
repartindo, dando origem a vários grupos macua compõe o Lomué.
Este grupo é
conhecido também por Lomué; que tradicionalmente ELOMUÉ, dentro
dos Lomué existem vários subgrupos como: Amalessane, Amole;
Amulima, Amaloa, Ahabo, só para citar.
Os lomué
caracterizam-se pela forma de articulação das palavras,
tradicionalmente usam a vogal (A) para designar o grupo de animais e
(E) para designar os objectos; por exemplo: Atitio ou Atata (tio),
Atxo (pessoas); Eipha (enxada), Ecadeira (cadeira).
Algumas designações
que surgem para designar o povo Macua:
Mulomué- Falante de
Lomué; E- Lomué- O lomué; A-Lomué- Os Lomués
Cap. III
Organização Sócio-político
As formas de
ordenação política e as expressões de direito são muitas e
correspondem à múltipla variedade das culturas. Na sociedade
macua-Lomué os grupos pertencentes a macua-lomué não vivem
isoladamente, e nem nascem sozinhos, mas sim, procuram manter um
colectivo ou vizinhança, de modo que os mitos continuem a ser
aceites, ou seja, evita a mistura segundo o enigma que diz: Para
ele ser é fundamental estar em relação com outros,
por
isso, para conhecer o povo macua-lomué é preciso conhecer
adequadamente as suas estruturas políticas e sociais, onde se
encontram as relações de humanidade.
3.1. Autoridade
O povo macua-lomué
é constituido por uma justaposição (unidades) de união entre
famílias formadas por grupos de parenteses unilineares,
uxorilocais
e exogâmecas.
O parentesco mergulha as raízes no ordenamento da natureza humana,
mediante o qual o homem se divide em macho e fêmea, mutuamente
atraídos na relação sexual necessária para a geração e
continuidade da espécie. O parentesco é um vínculo que liga os
indivíduos entre si com vista à geração e à descendência.
3.1.1.O NLOKO
(Linhagem)
Linhagem é um grupo
de pessoas descendentes de um mesmo antepassado cujo vínculo de
descendência é genealogicamente demonstrável e não pressuposto
miticamente. Uma vez que o povo Macua-Lomué tem uma linhagem
materna, considera-se o NLOKO, como o conjunto de unidades uterinas
(ERUKULO), em que todos os membros se consideram irmãos legítimos
(NLOKO NIMOHA). O mais velho dos NLOKOS, é considerado como NIKOLO e
é o dirigente da família que se forma. Entre
os Macua-Lomué, grupo de família NLOKO é o homem mais velho aquem
manda noutros membros de familias. Este homem, é o tio materno chama
(ATATA).
3.1.2. O NIHIMO
(Tribo)
De acordo com
BERNARDI tribo é um conjunto de pessoas unidas por descendência, ou
é um grupo de população distinto, por parte dos seus membros e dos
outros com base em critérios culturais regionais. Na sociedade
Macua-Lomué todos
os membros de unidades uterinas (NLOKO) usam o mesmo apelido
familiar, chamado (no plurar, MAHIMO) que deriva do antepassado
fundador e transmite-se matriliarmente.
Ter o mesmo NIHIMO
significa pertencer ao mesmo NLOKO que implica fundamentalmente três
coisas:
Um aspecto afectivo
entre os membros: as relações de respeito íntimo;
Etiqueta própria:
leis convencionais e procedimentos assumidos pela comunidade;
Aspectos jurídicos:
deveres e direitos positivos e negativos, que orientam as mutuas
relações.
3.1.3. O MWENE
É o chefe máximo
do povoado, este é responsável da comunidade, celebra todos os
eventos importantes da região, é o coordenador do conselho
constituído pelo grupo dos tios mais velhos de cada família
(ATATAS).
A direcção do
chefe máximo é acompanhada por dois grupos importantes, os velhos e
a irmã, mais velha do chefe máximo.
3.2. Símbolos de
autoridades
O
chefe
máximo do povoado (MWENE), é visto como a estrutura mais poderosa
daquela comunidade, por isso tem características que o identificam
durante o processo de governação, podemos aqui destacar:
Um chapéu de cor
preto, feito de pano ou tecido de caqui;
Alguns
instrumentos feitos a partir da pele de animais de grande porte;
3.3. Formas de
poder
O poder do
chefe máximo do povoado, é represeMapa de Moçambique
com o destaque a província da Zambézia, (distrito de Pebane)ntativo e ao mesmo tempo
simbólico, porque:
É representativo,
no caso em que o rei é empossado pelo antigo rei, ou seja quando
for uma sucessão do tio (antigo MWENE), para o sobrinho (novo
MWENE).
É simbólico, no
caso em que não existe uma sucessão, acontece quando o antigo
MWENE por motivos de força maior deixa o poder e nesse caso quando
o MWENE não tiver um sobrinho materno, mais velho capaz de dirigir
o povoado.
3.4.
Formas de casamento (Matrimónio)
3.4.1. O
casamento na sociedade macua-lomué
De acordo com
BERNARDI, O matrimónio é uma relação sexual entre dois indivíduos
de sexo diferente socialmente sancionada com vista à procriação e
à inculturação dos filhos; RADCLIFFE-BROWN define matrimónio como
uma ordenação social por meio da qual a criação recebe uma
posição legítima na sociedade determinada pelo parentesco.
O casamento é um
acontecimento que ocupa lugar importante no ciclo da vida. É a
terceira fase do ciclo. Pelo casamento o homem e a mulher, formando a
célula mais elementar na sociedade, colocam-se ao serviço directo e
concreto da transmissão da vida. Desta maneira integram-se na
corrente vital participando na função dos antepassados,
intermediários entre a fonte original e os homens. O casamento tem o
seu funcionamento neles e a sua raiz esta na fonte vital. O tal
propósito, o pensamento macua-Lommué é muito claro: OTHELANA
ORIMWA MAKHOLO (o casamento fundamenta-se nos antepassados).
O homem e a mulher
macua-Lomué anseiam pela descendência e fazem o possível para
conseguir. O primeiro objectivo da união matrimonial é a
transmissão da vida. O homem e a mulher ao casarem – se
colocam-se, a serviço da vida e aos instrumentos comunitários
através dos quais a comunidade recebe a vida como um dom e
transmitem-na como uma homenagem a que já lhe deu.
3.4.2. Factores
económicos
Apesar de não
existir, na sociedade macua, a instituição do dote matrimonial, o
factor económico do casamento é importante. Neste caso, quem
enriquece é a família da noiva, porque é esta que cresce com um
novo membro. Com os serviços que o noivo prestará, com o seu
trabalho, a família da mulher crescerá, não só em número como
economicamente.
3.4.3. A Exogâmia
Os macuas-lomué
devem casar-se fora da linhagem, pelo que o casamento é exogâmico.
É proibido casar dentro do próprio grupo familiar entre aqueles que
tem o mesmo apelido. Por isso a tradição aconselha-se muito cuidado
em saber, desde o início, a que linhagem pertence cada um dos
futuros cônjuges para não incorrerem na proibição do casamento
entre pessoas da mesma linhagem.
3.4.4. Residência
Matrimonial
Dependendo das
normas matrimoniais podem ser patrilocaMapa de Moçambique
com o destaque a província da Zambézia, (distrito de Pebane)l ou matrilocal segundo tenha
de residir junto do pai ou da mãe. Mas em virtude de os dois termos
não especificarem se se trata do pai e da mãe do marido ou da
mulher e deixam grande margem de incerteza. De acordo com FIRTH, os
termos virilocal e uxorilocal, são as mais adequadas para designar a
residência matrimonial.
Na sociedade
Macua-Lomué O novo agregado familiar, que nasce com um casamento,
constrói a própria casa perto da residência dos pais da noiva.
Normalmente se situa na localidade dos grupos de famílias
matrilineares da noiva. Por isso podemos falar do modelo de
residência uxorilocal e, mais concretamente, matrilocal.
3.5. Concepção
de família
Os grupos de
parentesco mais vulgares são a família, a linhagem e tribo.
A família
é um menor grupo do parentesco e da sociedade. De acordo com
BERNARDI as formas de família são múltiplas e a organização
social não é tão rígida. A natureza da família apresenta-se
complexa em todas as suas formas quer pelos elementos que a compõem
quer pela multiplicidade de funções que desempenha e das estruturas
que apresenta.
3.5.1.Formas
plurais de família
São múltiplas as
formas de família, sendo as mais típicas:
Família nuclear
ou conjuntas:
É
simples e elementar porque, na ordem do parentesco não há um grupo
tão essencial tratando-se de um grupo mínimo e irredutível, e
fundamenta-se na união entre homem e mulher casados.
Família
doméstica:
O
fulcro desta unidade social é a cooperação, inclui os adstritos a
serviços especiais.
Família
Composta:
É
oposta a família nuclear e dá relevo à contenção da fixação
genealógica.
Família
poligínica:
Articula-se
sobre o pluralidade de mulheres corresponderem a exigências sociais
e sobretudo económicas, o prestígio que o homem obtém com mais
mulheres de autoridade e de poder na sociedade, mas constitui também
exibição e forma de riqueza, na divisão do trabalho, cabe à
mulher o trabalho dos campos e muitas mulheres produzem muita
colheita.
Família
poliândrica: Possui
uma estrutura totalmente diversa, que se articula sobre a pluralidade
do marido.
Cap.IV Ritos
Ritos são
experiências vividas para garantir a maturidade das crianças, os
ritos podem ser quentes ou frios.
Quentes são aqueles
que se repetem muitas vezes durante a vida e frios são aqueles que
não se repetem ou seja acontece apenas uma vez.
4.1. O nascimento
(oyariwa)
O nascimento de uma
criança é um dos acontecimentos mais importantes da sociedade
macua-lomué. Ela é desejada e esperada pelos pais, responsáveis,
membros da família e por toda sociedade porque todos amam a vida e
desejam que esta continua. Um filho significa para família e para a
sociedade, a esperança concreta que a vida não acaba, é o sinal
que os antepassados continuam a ser intermediários entre a fonte da
vida e a sociedade. Por isso o nascimento de uma criança é motivo
de festa.
4.2. A confissão
ritual das faltas (OLAPHULE).
Se o parto difícil
ocorre-se às praticas rituais de emergência. Em primeiro lugar, uma
das anciãs assistente ao parto fala com o marido para que este ponha
as coisa de casa( especialmente a roupa) ao ar livre e adopte, mesmo
na maneira de vestir, uma atitude de tristeza. Se os problemas
continuam, então deve consultar-se imediatamente o especialista de
averiguação e realizar-se o rito de confissão das faltas
(olaphulela). É um rito de auto-critica e de conciliação.
A parturiente deve
confessar as instrutoras (anamuku). Neste rito a parturiente pode
insultar o marido e descobrir as desavenças conjugais ocultas.
Nascido a criança, a instrutora principal (Namuku) corta o cordão
umbilical e acta o umbigo. Imediatamente as anciãs lhe dão o
primeiro banho com água preparada nesse momento e nunca com anterior
existente. O primeiro banho é ao mesmo tempo uma medida de higiene e
um rito de purificação.
4.3. Anúncio
No nascimento de uma
criança as mulheres gritam ELULU para manifestar a alegria pelo
êxito do parto. O grito pode ter maior ou menor duração, conforme
o sexo da criança: será mais prolongado se se tratar de uma menina,
porque a menina no futuro ira aumentar a família e não abandonara a
casa; pelo contrário o grito por um menor terá menor duração,
porque este quando for adulto abandonará a sua casa para beneficiar
o crescimento de uma família distinta da sua.
4.4. O rito de
agregação
Depois de 8 dias do
parto e de cicatrizar a ferida do umbigo, realiza-se uma cerimónia
designado por fogo apagado (OTXIPIHIA MORO). Neste processo dá-se
banho ritual (ORAPIHIWA MWANA), cortam o cabelo (OKWATXA MAHI), e
assim a criança tira-se para a sociedade em geral e é atribuído o
nome (OVAHIWA NSINA).
4.5. Proibições
rituais (MWIKHO)
Há uma série de
proibições rituais que os pais do recém-nascido têm de observar,
desde a data de nascimento até ao dia dos ritos do fogo apagado.
Este período de tempo vai normalmente de um ano e meio a dois.
As proibições mais
importantes são:
Os pais do
recém-nascido não podem fazer sexo durante todo o período de
amamentação;
O pai não pode
entrar dentro da casa para ver a criança antes de se realizar a
cerimónia de fogo apagado;
A mãe deve
abster-se durante todo o período de amamentação da criança;
A mãe não deve
acender fogo, cozinhar para o marido e preparar-lhe água para o
banho antes do fogo apagado;
Durante este
período de tempo, todas anciãs devem abster-se de relação
sexual;
As pessoas
solteiras não podem pegar na criança até ao referido dia
cicatrização do umbigo.
4.6. O desmame
Depois de a criança
começar a caminhar, realizam-se ritos de desmame. Este rito
consiste, fundamentalmente num banho da criança, a qual assistem
todos os membros da família chefe da aldeia (MWENE), o chefe da
linhagem e as restantes famílias. É um rito de purificação de
integração definitiva da vida. Depois do banho e ungido todo corpo
da criança com óleo.
Durante este rito, o
chefe da aldeia faz uma exortação aos pais da criança sobre o bom
comportamento. A mãe oferece uma galinha como agradecimento. A
partir deste momento, os pais da criança podem começar as relações
conjugais íntimas e todas as actividades familiares e sócias.
4.7. Iniciação
masculina
Com o nascimento e
os ritos correspondente a criança não fica completamente integrado
na sociedade. O seu verdadeiro nascimento social ocorrerá com a
participação nos ritos de iniciação em macua (WINELIWA).
A sociedade
macua-lomué ritualiza a passagem da adolescência para o estado
adulto em ambos sexos havendo ritos próprios para os rapazes
(OCILEIWA), para raparigas (EMWALI).
Pela iniciação, o
indivíduo passa da infância a idade adulta, participando nos ritos
de iniciação, o jovem adquiri a maioridade e toma consciência da
própria identidade e do lugar que lhe compete na comunidade, pode
tomar parte do pleno direito em todas actividades da sociedade
(casar-se, participar nos sacrifícios tradicionais, sentar no meio
dos adultos, falar publicamente nas reuniões dos adultos).
Os ritos de
iniciação são, em primeiro lugar, ritos de separação, o jovem
abandona a sua infância anterior, em segundo lugar são ritos
liminares pelos quais o indivíduo vive uma particular transformação
da sua personalidade em clima de separação física e social; e, em
terceiro lugar o rito de incorporação na situação normal da
sociedade.
4.7.1. Ritos
preliminares (sua preparação).
A criança, entre os
8 e 12 anos os responsáveis das respectivas famílias, reúnem-se e
discutem, e apresentam a questão ao chefe da aldeia, para que
comunique ao chefe máximo (MWENE), por sua vez o mwene anuncia
oficialmente a celebração dos ritos de iniciação, os rapazes
(OCILEIWA). O MWENE antes de anunciar reúne com os seus conselheiros
chefes da linhagem, os anciãos e outras pessoas importantes
(MAKOLO). Normalmente o rito de iniciação dos rapazes nas
sociedades macua- lomué faz-se em cada dois ou três ano conforme o
número de rapazes que existe no povoado. O tempo mais é no inverno
calhando nos meses de Julho, Agosto e Setembro, tempo de frio e seco.
4.7.2.
Inauguração da iniciação (corte de cabelo)
Na manha do dia
indicado para o inicio dos ritos, na casa de cada um dos iniciados
realiza-se o rito preliminar do cabelo (OTXEMIWA). Faz se sacrifício
tradicional pelos representantes da família (ATATA) e o chefe da
linhagem.
Refeições
comunitárias
É uma constituição
da festa, prepara-se papa de farinha de milho (EXIMA) sem açúcar e
sem sal, mais outra refeição com carne de galinha, de cabrito, de
Javali ou antílope.
4.7.3. O fogo
novo
Neste processo,
acaba a festa os iniciados e os seus familiares reúnem-se em casa do
chefe do chefado (MWENE) e passam a noite a volta da fogueira
celebrando o começo da iniciação, cantam e dançam.
Marcha para o
acampamento no dia seguinte os iniciados (ALUKHU) acompanhados pelo
chefe da família (ATATA) e outros familiares próximos, pelo MWENE,
instrutores (ANAMUKU), o direito a iniciação, os padrinhos (AMOLE),
deixam a aldeia e encaminham-se para o acampamento chamado
(ONVERANI), um lugar escolhido e escondido na mata.
Cada família
reúne-se três dias para passar os dias de festa de iniciação.
Ao terceiro dia os
iniciados tomam a refeição ritual no acampamento chamado EPILIKO.
Os remédios para iniciação e os instrumentos necessários para os
ritos de iniciação ficam nos centros das instalações do
acampamento, num monte de areia, esses medicamentos tem nome
simbólico de cauda (MWILA).
4.7.4. A
circuncisão
No dia seguinte, a
refefeição ritual do EPLIKO, o MWENE, com uma vara nas mãos
(MUKOSI) bate no recepiente contendo remédios, que se encontra no
centro de acampamento, cada LUKHO acompanhado pelo seu sobrinho
aproxima-se do local. Ao chegar ao local, indicado pelo chefe, o
padrinho coloca-se com o afilhado junto do director da iniciação e
os restantes ajuntantes, com o movimento rápido, coloca-se ao chão
o rapaz. Nesta posição, o circunsizante corta uma parte do
percúcio. As gotas de sangue são recolhidas imediadamente e posto
num lugar apropriado para posteriorimente prepara-se uma comida
ritual.
O
recém-circunsizante, senta-se no chão com as pernas abertas e as
mãos faz o pó para ajudar a cicatrizar a siua ferida. Passado
algumas horas o padrinho coloca no pénis do seu afilhado uma rodilha
ou uma argola de folhas e amara-lhe com uma corda atráz como forma
de fixar. Esta argola tem o nome de EKHARA. Seguem os cânticos de
intruções denominadas de NTHURKWE, já conhecidos por parte dos
circunsizantes.
Terminado rito,
dirigem-se ao local chamado NAMUHAKA, para recebem os ritos
(conselhos de boa conduta), tais ritos são:
Iniciação nas
tradições do povo, ritos de origem e histórias do povo, lendas,
personagens importantes.
Iniciação a vida:
é a iniciação do comportamento social.
4.7.5. As
proibições rituais (MWIKHO)
Os jovens que não
participam nos ritos de iniciação devem observar as seguintes
proibições durante tempo de iniciação:
Não pode tomar
banho nem lavar-se, com excepção banhos rituais,
Não usar roupa que
usam normalmente, de facto vestem-se de farrapos e andam quase nus;
Tem de se abster de
alimentos preparados por mulheres;
Não podem comer
alimentos, que pela sua cor, tamanho ou forma possa assumir um valor
simbólico;
Não podem se afastar do
acampamento
4.7.6. Proibições
aos pais.
Não podem tomar
banho durante o período de iniciação
Não podem se
vestir com elegância nem roupa nova
Não podem pentear
Devem comer comida
sem sal
Não podem manter
relações sexuais durante esse período
4.7.7. Imposição
de nome (OVAHYWA NSSINA)Mapa de Moçambique
com o destaque a província da Zambézia, (distrito de Pebane)
O nome indica ao
mesmo tempo um estado ´´ dimensão essencial ´´e uma missão
(dimensão funcional), e pode relacionar com a anterior vida do
jovem, com algum acontecimento familiar ou com algum pressentimento.
A imposição do
nome confere por ordem de prioridade ao chefe de família ou pais do
jovem, e outras pessoas particularmente relacionada com a família.
Entre a pessoa que dá o nome a que recebe restabelece-se uma relação
de facto e respeito e observa-se uma determinada etiqueta. Os nomes
da comunidade Macua-Lomwe, tem um determinado valor cultural que
podemos s esquecer. O nome identifica a pessoa que liga-se ao mundo
dos antepassados e indica também uma missão na vida.
4.7.8. Intrusão
As instruções que
os rapazes recebem durante o período que passa no acampamento NVERA,
são os seguintes:
4.7.9. Proibições
rituais
As proibições
gerais (MWIKHO), nesta fase dos ritos de iniciação são as
seguintes proibições:
Silêncio: os
rapazes não podem falar com os chefes do acampamento.
Abstinência
alimentar: Proibição de consumo de mel, ovo e comidas com sal ou
pimenta. Também não podem comer peixe de cor escura e nem carne de
galinha.
4.7.10.
Ritos
finais
Acabada a iniciação,
há destruição do acampamento (NVERA).
O director da
iniciação ordena a realização dos últimos ritos e encerramento
da iniciação.
4.8. Iniciação
feminina
Paralelamente aos
ritos de iniciação masculina, existem na sociedade Macua-Lomué,
ritos próprio para a iniciação feminina chamada EMWALI. Estes
ritos diferenciam-se dos ritos de iniciação dos rapazes pelo facto
do conteúdo das instruções, pelas pessoas que nela participam,
pela data de celebração, pela sua duração, pelo seu lugar e pela
menor solenidade das cerimónias.
Até a realização
dos ritos, rapariga macua-lomwe fica ligada estreitamente a mãe, num
ambiente de total confiança e liberdade, sem discriminação sexual
e à margem de vida social
A primeira educação,
básica e genérica ao mesmo tempo sugere-se na ordem do tempo e da
importância, a iniciação propriamente dita na vida sócia, ou seja
a verdadeira passagem de menina para jovem (EMWALI), trata-se da
descoberta e assimilação da rapariga e faz a sua própria
personalidade e do plano acesso à vida social.
4.8.1. Ritos
preliminares
A iniciação da
rapariga inicia desde pequena ate progrida para participar nos ritos
propriamente ditos da iniciação não é necessariamente obrigatório
que ainda não tiveram a primeira a primeira menstruação. Por vezes
juntam-se raparigas que ainda não tiveram a primeira menstruação
com outras já menstruadas, neste caso, durante a instrução
(IKANO), são divididas em dois grupos.
Os ensinamentos
consistem fundamentalmente, no seguinte:
Explicar sobre o
facto fisiológico da menstruação e sobre cuidados higiénicos que
a jovem devem ter de então para diante.
Como se pode
comportar perante a sociedade (durante a menstruação não pode
falar com os homens, deve respeitar os adultos e, de modo particular
as instrutoras, comporta-se com o público.
A forma de vestir
durante esse tempo, a rapariga não pode usar roupa de todos os
dias, muitos menos a roupa do dia de festa, também não se pode
embelezar;
A alimentação –
deve abster-se de certos alimentos, como o caso de ovo (NOTXE), e
peixe (MUKOPO). Deve comer papas de milho (EXIMA) mal cozidas com
folhas de mandioca e feijão.
Trabalhos caseiros:
preparação de comida, limpeza de casa, evitar fazer refeições
para os homens, na altura de menstruação.
Proibições de
relações sexuais tratando-se duma rapariga já casada, ficam
proibidas as relações sexuais durante o tempo da iniciação.
4.8.2. Período
de entrada
O ritual usado é
normalmente, o que se usa para entrada para os rapazes na iniciaçaão.
4.8.3. Instrução
(OLAKA)
A instrução, que
começa com a primeira fase de iniciação é que continuará ápos a
conclusão dos ritos, principalmente a no período de gravidez e na
celebração de casamento, agora, nesta segunda fase é mais
intensiva, adquire uma totalidade mais formal e abrangente a educação
em todos os aspectos da vida. Esta educação, para além de preparar
as jovens para assumirem a sua responsabilidade na sociedade, promove
nelas legalidades às instruções comunitárias. As mestres, no seu
discurso educativo usam linguagem simbólica, acompanhada de gestos,
enigmas, cânticos formas literárias que ajudam as jovens a fixar os
ensinamentos recebidos.
As instruções para
além de iniciarem os jovens para a vida sexual, educam-nas e
preparam-nas para a vida familiar e social.
As raparigas
aprendem a cumprimentar os adultos, os superiores e todas as outras
pessoas. Sempre que tenha que entregar alguma coisa ao marido, aos
pais e as outras pessoas mais importantes devem fazê-los de joelhos
e com as duas mãos. É lhes ensinado que não podem casar com
pessoas da mesma linhagem, sendo obrigadas a conhecerem o apelido
(NIHIMO) do jovem com quem se querer casar. Aprendem como se deve
comportar na vida conjugal, neste campo, devem ter cuidado em
abster-se de relações sexuais durante a menstruação porque é
proibido por tradição.
Para evitar o marido
de que estão menstruadas, deixam na cama uma porcelana de sementes
vermelhas, quando acabam a menstruação, deixa na cama uma porcelana
de sementes brancas. Desta forma, o marido sabe como se deve portar
para não transgredir as leis tradicionais.
4.9. Morte
Chegando o momento
da morte, quando o moribundo (MULIPA OLUWELA) espira, o familiar que
anteriormente lhe humedecia a boca diz aos parentes “ deixou o
coração” (OHIA MURIMA). Observa-se então uma figura de estilo
que equivale dizer “morreu”. Então fecham-lhe os olhos e a boca,
colocam-no deitado na esteira, coberto com um pano. Imediatamente as
mulheres presentes gritam e choram de dor. Os homens não devem
gritar nem chorar, podem somente soluçar.
Passados alguns
momentos leva-se o cadáver para o banho duplo, com valor higiénico
e purificador. Normalmente isto é feito com água quente preparada
no momento. As mulheres encarregadas de o fazer são as familiares
mais próximas do defunto e as amigas da família.
4.9.1. Preparação
do inteiro
O tio materno mais
velho do falecido ou, na falta deste, o que segue por ordem de
importância na família assume a responsabilidade de organizar a
cerimonia para a realização dos ritos fúnebres, distribuindo os
encargos entre os familiares e pessoas mais chegadas: uns
encarregam-se de tratar do cadáver com varias abluções e unções
e de o envolver num pano grande e numa esteira; outros preparam a
cova, no lugar indicado pela família; outro grupo prepara a cova, no
lugar indicado pela família; outro grupo prepara a comida para todos
os que participara no funeral e a água para as abluções.
4.9.2. O lugar
da sepultura
A sepultura do
cadáver faz-se, normalmente, num lugar escolhido pelo tio materno
mais velho do defunto fora da aldeia, afastado dos caminhos, entre as
árvores do bosque.
Quando se trata de
chefe da aldeia ou do régulo, costuma escolher-se um lugar especial,
perto da sua casa. A cova (MAHIYE) tem um ou dois metros de
profundidade, conforme a idade do falecido (mais ou menos, conforme o
defunto é mais velho ou mais novo), tem no fundo ou ao lado
esquerdo, conforme os gostos, um nicho ou cova secundaria, que é o
lugar exacto onde é deposto o cadáver.
Cova
com nicho no fundo
Legenda
1
Cova
com nicho lateral
-Nivel do terreno
UP-Beira
2011
Gelito Jose Arigora